sexta-feira, 5 de novembro de 2010

OPINIÃO

A partir de 1956 Portugal desenvolveu uma indústria de Equipamentos de Elevação de alta qualidade que se revelou competitiva a nível mundial. Mais de 800 máquinas, guindastes, pórticos gigantes e pórticos de contentores e pontes rolantes de Central, concebidos e produzidos em Portugal, equipam Portos, Estaleiros Navais e Centrais Elétricas em vinte e dois países, da Suécia aos Estados Unidos e da Rússia ao Bahrein.
Uma das áreas de maior expansão deste tipo de indústria verificada nos últimos vinte anos respeita à movimentação de contentores, com navios cada vez maiores. Para a descarga e carga dos contentores utilizam-se pórticos de contentores de grandes dimensões que têm a designação internacional de STS (Ship-to-shore) cranes e para o parqueamento de contentores nos terminais portuários utilizam-se pórticos de parque sobre carris, RMC (Rail mounted Cranes) ou sobre pneus, RTG (Rubber Tyred Cranes).
Os pórticos de contentores foram inventados no início dos anos 60 e a indústria portuguesa de Equipamentos de Elevação pesados começou, logo em 1969, a produzir máquinas deste tipo, com conceção própria, que equipam terminais portuários em Lisboa, Leixões, Setúbal, Antuérpia (Bélgica), St. Nazaire (França), Sète (França) e Saab (Suécia). Até hoje produziram-se em Portugal 17 pórticos de cais STS, e 19 pórticos de parque. Deste total de 36 máquinas, 26 foram produzidos pela empresa pioneira e 10 pela empresa que no nosso país continua este tipo de atividade. Portugal continua a produzir com sucesso para o mercado interno e para a exportação. É de notar que cada máquina produzida em Portugal para o mercado interno substitui uma importação. Um pórtico STS vale mais de 6’000’000 euros e um pórtico de parque mais de 2’000’000 euros.
As máquinas de produção nacional estão a ser fabricadas em grandes unidades fabris do Grande Porto e são totalmente concebidas e projetadas no país. Todos os fabricos de componentes mecânicos são produzidos em fábricas próprias do atual fornecedor deste tipo de equipamentos.
Uma das componentes fundamentais responsáveis pelo desempenho e rendimento deste tipo de máquinas respeita ao equipamento elétrico de controlo e comando e de automatismos dos diversos mecanismos de acionamento das máquinas. A empresa portuguesa que desenvolve e fornece pórticos de contentores trabalha em conjunto com a delegação em Portugal de um dos maiores grupos mundiais neste campo. A colaboração entre as duas empresas tem possibilitado a independência tecnológica de ambas permitindo que todo o trabalho de engenharia, estrutural, mecânico e elétrico e de automatismos seja desenvolvido em Portugal, por técnicos portugueses, com total independência do exterior.
As máquinas de origem portuguesa mais modernas têm demonstrado taxas de produtividade elevadíssimas, de acordo com os padrões internacionais, para isso contribuindo as altíssimas taxas de disponibilidade dos equipamentos e o facto de operarem muitas das vezes em twin-lift (dois contentores movimentados por ciclo de carga/descarga).
Até 2014 o Canal do Panamá constitui uma das grandes restrições ao tráfego mundial de contentores visto que limita a 32.25 m de boca (13 fieiras de contentores) os navios que o podem atravessar. Com o alargamento previsto para entrar ao serviço do Novo Canal do Panamá, os limites passarão a permitir a passagem a navios até 45 m de boca (18 fieiras de contentores) com capacidades por navio até 6800 contentores. Entretanto já começam a operar navios para 22 fieiras de contentores, que servem rotas não dependentes do Canal do Panamá. Antecipando desde já estas novas gerações de navios, a indústria portuguesa de pórticos de contentores já está a produzir neste momento máquinas Post-Panamax e projeta já máquinas que permitem operar navios até 63m de boca (22 fieiras de contentores).
O mar tem sido e deverá continuar a ser um dos grandes vetores da especialização do nosso país e do seu desenvolvimento económico. Portos, construção naval, pesca, transportes marítimos, turismo são alguns dos setores que têm todas as potencialidades de desenvolvimento tirando partido da nossa posição geográfica aliada à enorme zona marítima exclusiva. Com base no desenvolvimento das atividades portuárias e de construção naval desenvolveu-se e mantém-se uma indústria portuguesa tecnologicamente autónoma de equipamentos de elevação cuja competitividade tem vindo a ser comprovada com as exportações alcançadas. Este ramo industrial está neste momento a reforçar-se com novos meios de projeto, fabricação e logísticos e com sistemas de garantia de qualidade de elevada exigência.
A expansão da atividade portuária no nosso país, sobretudo em Lisboa, Leixões, Sines e Setúbal, alavancará ainda mais a nossa capacidade de desenvolvimento aumentando o potencial de número de referências e de massa crítica, base para a sustentação da nossa capacidade exportadora.
Para o sucesso do nosso desenvolvimento nestas áreas é indispensável que todos tomemos consciência das enormes potencialidades que o país já possui - situação geográfica, capacidade tecnológica e capacidades de produção de elevada qualidade - e que não se criem resistências superficiais e ignorantes à livre expansão das indústrias que têm no mar a sua razão de ser.
Fonte: Cargo News

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